2006-04-04
4'33''

 

"O silêncio era um conceito por ele [John Cage] visto como uma oposição ao som. Só a partir de 1951, quando, em Harvard, entrou numa câmara anecóica (um espaço fechado sem som reflectido) se deu conta que existiam dois sons (...): um agudo, o sistema nervoso, e outro mais grave - a circulação sanguínea. Nos seus escritos, o compositor relata frequentamente a história desta experiência (...):

It was after I got to Boston that I went into the anechoic chamber at Harvard University. Anybody who knows me knows this story. I am constantly telling it. Anyway, in that silent room, I heard two sounds, one high and one low. Afterward I asked the engineer in charge why, if the room was so silent, I had heard two sounds. He said, 'Describe them.' I did. He said, 'The high one was your nervous system in operation. The low one was your blood in circulation.'*

(...)
Após essa experiência fulcral, compunha em 1952 a peça mais polémica de todo o seu acervo - 4'33''. A primeira audição ocorreu no mesmo ano, em Woodstock, pelo pianista David Tudor. A peça consiste em quatro minutos e trinta segundos de silêncio, nos quais o intérprete nada toca.
(...)
Ao idealizar uma peça silenciosa, o seu principal intuito seria demonstrar que o silêncio não existe, passando o termo a referir-se a todos os sons que ocorrem no Universo e que não dependem da vontade do compositor no momento em que este inicia o processo de composição.
Para além da experiência da câmara anecóica, outra vivência, desta feita de natureza mais directamente artística, despoletara a execução do ousado projecto: a exposição das 'White Paintings' de Rauschenberg. Segundo Cage, a ideia de Rauschenberg, ao elaborar uma exposição onde uma das obras era constituída por três painéis de tela branca sem mais conteúdo, impulsionou-o a concretizar o seu antigo desejo de compor uma peça completamente silenciosa. Segundo ele, são duas abordagens diferentes da mesma questão. Os sons ambientais de 4'33'' relacionam-se com as partículas de pó, as sombras e as mudanças de luz que as 'White Paintings' exibem, ou seja, tudo o que está ao alcance do olhar, para lá do que é representado pelo pintor na tela."

Excerto do ensaio de Ana Cancela Pires sobre a obra de John Cage, incluído na revista "aguasfurtadas" 9. Em breve, numa livraria perto de si.

* Cage, "How to pass and kick and fall and run", in "A year from Monday", 1967, p. 134.

furtado por Rui Manuel Amaral | 15:37

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